sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

De pequena garagem a grande palco


Escritor, radialista, dramaturgo, roteirista, poeta, professor, ator e diretor - Romário Machado Barbosa luta pela valorização e expansão da cultura e do teatro


Mariana Areco Torres
Pariquera-Açu

A cultura é fundamental para a compreensão de diversos valores morais e éticos que guiam o comportamento social e entender como estes valores se interligam nas pessoas e como eles conduzem as emoções e a avaliação do próximo é um grande desafio. Pensando assim que Romário Machado Barbosa luta pela valorização e pela expansão da cultura e do teatro.
Seu mais novo projeto é criar um grupo de teatro em Pariquera-Açu chamado GRUTAPA (Grupo de Teatro Amador de Pariquera-Açu), que terá como principal objetivo divulgar a cultura, principalmente o teatro, como forma de lazer, desenvolvimento social e autoconhecimento, além de descobrir valores artísticos.

Romário explica que pretende iniciar as aulas em março e que as primeiras turmas poderão participar do projeto gratuitamente, contribuindo apenas com o material didático. “O objetivo é selecionar os que mais se destacarem para ai sim formar o GRUTAPA. Ai, as próximas turmas terão mensalidade, mas, que estarão dentro das condições da comunidade”, destaca.
O curso será dividido em duas etapas: a primeira parte será teórica, onde o aluno tomará conhecimento da origem e evolução do teatro, história do teatro no Brasil, elementos do teatro (diretor, ator, som, figurino e luz), entre outros assuntos. A segunda etapa será prática, com exercícios de concentração, improvisação, interpretação, finalização com a montagem de um espetáculo e etc. “Para poder cobrar é preciso ensinar primeiro”, explica.

A carga horária do curso será de 80 horas, sendo ministradas nas segundas e nas quartas-feiras com 3 horas em cada dia. “Minha real intenção é formar turmas nos três turnos. Por questões de responsabilidade só ministro aulas com no máximo 20 alunos, pois necessito dar atenção a cada aluno, para acompanhar o desenvolvimento de todos ao mesmo tempo”, salienta Romário.

Mesmo sendo ministrado em Pariquera, os interessados de outros municípios também poderão participar. “O curso é aberto a todos os interessados, desde que possam se deslocar. No teatro não há preconceito ou discriminação”. Seguindo essa linha que Romário também não selecionou uma faixa etária em específico para fazer parte do curso, pessoas de 8 a 80 anos poderão participar.

Com muita disposição, mas com pouca verba e apoio, inicialmente o curso será ministrado na garagem da sua casa, onde está montando um espaço, com iluminação e decoração para que em um futuro próximo vire um palco. Em outubro já terá uma peça infantil em cartaz composto por quatro personagens: A formiga fofoqueira.

Esses personagens são pessoas que já estão com Romário há algum tempo. Pessoas que nunca tiveram acesso ao teatro e que nunca imaginaram atuar, mas que agora são atores amadores. “Estamos no início, na fase de leitura do texto, pois o processo tem que ser lento, pois ao mesmo tempo que ensaiamos, dou aula para eles a fim de que saibam realmente como se desenvolve uma montagem teatral”, explica.

Dificuldades | Há 44 anos atuando na área, Romário já enfrentou muitos obstáculos, mas, nunca perdeu a esperança e o grande amor pelo teatro. “Se não podemos mudar o mundo, podemos ao menos mudar as pessoas a nossa volta e para isso precisamos estar sempre desenvolvendo trabalhos culturais, palestras de conscientização e o teatro tem a capacidade de ser um instrumento não só de lazer, mas também de conscientização social. Lembra da história do beija-flor carregando a gotinha de água para apagar o incêndio? Pois é, se cada um de nós fizermos um pouco pela nossa sociedade, teremos um mundo melhor”, acredita.

Romário conta que veio de Salvador para São Paulo atrás do sonho de crescer profissionalmente, mas que teve muitas dificuldades. Um dia veio passear no Vale do Ribeira, gostou da região e se mudou para cá. Hoje divide a casa onde mora e onde é seu espaço de trabalho com um amigo. Mesmo gostando muito da cidade, Romário explica o quanto é difícil mostrar para as pessoas a importância da cultura e do teatro e de como esse trabalho é sério. “Não é apenas pegar um texto, decorar e reproduzir. O teatro exige dedicação, responsabilidade, disciplina e muito trabalho, senão não teria motivo para existir os cursos profissionalizantes de nível superior”.

 Salienta ainda que o poder público não se esforça para valorizar e expandir a cultura. “A questão da valorização da cultura no interior tem dois culpados: o poder público municipal que não a promove e a população que, por falta de conhecimento e comodismo não cobra. Essa desvalorização é bem mais acentuada nas cidades do interior, mas, também não é muito diferente no país inteiro”.

Para Romário, o poder público não tem interesse em oferecer cultura para a população porque a cultura traz para as pessoas o conhecimento social e o discernimento para distinguir a mentira da verdade. “Quanto mais um povo ignorante melhor para fazer com que acreditem nas mentiras que os políticos contam. Tem um ditado que diz: Um homem inteligente é perigoso. Então, o melhor é manter a população burra”, contesta.   

Possibilidades | Romário acredita que com a atual gestão da Prefeitura, o município terá mais destaque na área de cultura, uma vez, na visão dele, pouco foi feito nesses dois anos que está na cidade. Porém, sabe que não terá atenção de imediato, já que considera que os primeiros meses para a nova equipe serão de adaptação e de conhecimento sobre as prioridades e assuntos mais emergenciais. “No momento, a maior contribuição que estou tendo é justamente essa entrevista que irá contribuir muito para a divulgação do meu trabalho e o meu projeto teatral para a cidade”, esclarece e agradece. Mas, Romário está confiante com o atual prefeito de Pariquera, Zé Carlos JC. “Ele se mostrou bastante interessado em apoiar a cultura em um todo e especificamente no teatro. Inclusive falou nos comícios e na entrevista que deu em meu programa (http://www.youtube.com/watch?v=TakJwRvBIZQ), que irá apoiar a cultura para jovens e para terceira idade”, afirmou.

Além da possível parceria entre Romário e prefeitura, as empresas interessadas em apoiar o projeto também podem contribuir com patrocínios. “Em troca divulgaremos suas logomarcas nos cartazes”, enfatiza.

Romário lembra ainda que o município só tem a ganhar com a valorização e expansão da cultura. “Será de grande valor para a formação de sua história e na divulgação da cidade, abrindo fronteiras e podendo até fazer intercâmbio cultural com outros municípios do Vale do Ribeira. Uma cidade sem cultura é uma cidade sem história”. 

Trajetória | Romário Machado Barbosa nasceu em 31/12/1955, em Salvador - Bahia e faz teatro desde os 13 anos, iniciando no Centro Educacional de Periperi. Virou profissional com DRT (atestado de capacitação profissional), em 1978. Em seu currículo constam mais de 30 peças de teatro, quatro longas metragens, sendo que um deles foi a participação em Tieta do Agreste, com a direção de Cacá Diegues, estrelado por Sônia Braga. Além de cinco curtas metragens e algumas campanhas publicitárias. Em literatura, possui poesias lançadas, crônicas e contos. É licenciado em Educação Artística com habilitação em Artes Cênicas, pela Universidade Católica de Salvador e Bacharel em Direção Teatral, pela Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia. É também pós-graduado em educação pela Faculdade de Educação da Bahia e possui. Atualmente está produzindo, dirigindo e atuando em vídeos disponibilizados no Youtube, nas páginas de Romário Machado e Bibi Mariela.

 Romário Machado Barbosa em sua garagem
Amor à arte | Mesmo com tantos obstáculos e preconceitos que enfrentou Romário Machado Barbosa nunca perdeu a esperança em poder levar a cultura do Brasil pra frente. Quando criança apanhava do pai, que tentava fazer com que ele desistisse de uma profissão “sem futuro”, como é até hoje considerada por muita gente. Sofreu muitos preconceitos por ser deficiente físico em consequência da poliomielite, mas afirma sempre ter tirado de letra.

Ao perguntar o motivo de continuar acreditando tanto na cultura e no teatro mesmo depois de tantos obstáculos, Romário foi categórico. “Acredito e morrerei acreditando. Eu me considero um agente de transformação social e utilizo o teatro como forma de conscientizar as pessoas do seu espaço nesse universo, se respeitando e cobrando respeito, mas para isso é preciso que as pessoas conheçam os seus direitos e deveres, cumprindo-os para uma melhor convivência social. Se tivéssemos respeito um pelo outro teríamos uma sociedade melhor”.

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