Escritor,
radialista, dramaturgo, roteirista, poeta, professor, ator e diretor - Romário
Machado Barbosa luta pela valorização e expansão da cultura e do teatro
Mariana Areco Torres
Pariquera-Açu
A cultura é fundamental para a compreensão de diversos valores morais e
éticos que guiam o comportamento social e entender como estes valores se
interligam nas pessoas e como eles conduzem as emoções e a avaliação do próximo
é um grande desafio. Pensando assim que Romário Machado Barbosa luta pela
valorização e pela expansão da cultura e do teatro.
Seu mais novo projeto é criar um grupo de teatro em Pariquera-Açu
chamado GRUTAPA (Grupo de Teatro Amador de Pariquera-Açu), que terá como
principal objetivo divulgar a cultura, principalmente o teatro, como forma de
lazer, desenvolvimento social e autoconhecimento, além de descobrir valores
artísticos.
Romário explica que pretende iniciar as aulas em março e que as
primeiras turmas poderão participar do projeto gratuitamente, contribuindo
apenas com o material didático. “O objetivo é selecionar os que mais se
destacarem para ai sim formar o GRUTAPA. Ai, as próximas turmas terão
mensalidade, mas, que estarão dentro das condições da comunidade”, destaca.
O curso será dividido em duas etapas: a primeira parte será teórica,
onde o aluno tomará conhecimento da origem e evolução do teatro, história do
teatro no Brasil, elementos do teatro (diretor, ator, som, figurino e luz),
entre outros assuntos. A segunda etapa será prática, com exercícios de
concentração, improvisação, interpretação, finalização com a montagem de um
espetáculo e etc. “Para poder cobrar é preciso ensinar primeiro”, explica.
A carga horária do curso será de 80 horas, sendo ministradas nas
segundas e nas quartas-feiras com 3 horas em cada dia. “Minha real intenção é
formar turmas nos três turnos. Por questões de responsabilidade só ministro
aulas com no máximo 20 alunos, pois necessito dar atenção a cada aluno, para
acompanhar o desenvolvimento de todos ao mesmo tempo”, salienta Romário.
Mesmo sendo ministrado em Pariquera, os interessados de outros
municípios também poderão participar. “O curso é aberto a todos os
interessados, desde que possam se deslocar. No teatro não há preconceito ou
discriminação”. Seguindo essa linha que Romário também não selecionou uma faixa
etária em específico para fazer parte do curso, pessoas de 8 a 80 anos poderão
participar.
Com muita disposição, mas com pouca verba e apoio, inicialmente o curso
será ministrado na garagem da sua casa, onde está montando um espaço, com
iluminação e decoração para que em um futuro próximo vire um palco. Em outubro
já terá uma peça infantil em cartaz composto por quatro personagens: A formiga
fofoqueira.
Esses personagens são pessoas que já estão com Romário há algum tempo. Pessoas
que nunca tiveram acesso ao teatro e que nunca imaginaram atuar, mas que agora
são atores amadores. “Estamos no início, na fase de leitura do texto, pois o
processo tem que ser lento, pois ao mesmo tempo que ensaiamos, dou aula para
eles a fim de que saibam realmente como se desenvolve uma montagem teatral”,
explica.
Dificuldades | Há 44 anos
atuando na área, Romário já enfrentou muitos obstáculos, mas, nunca perdeu a
esperança e o grande amor pelo teatro. “Se não podemos mudar o mundo, podemos
ao menos mudar as pessoas a nossa volta e para isso precisamos estar sempre
desenvolvendo trabalhos culturais, palestras de conscientização e o teatro tem
a capacidade de ser um instrumento não só de lazer, mas também de conscientização
social. Lembra da história do beija-flor carregando a gotinha de água para
apagar o incêndio? Pois é, se cada um de nós fizermos um pouco pela nossa
sociedade, teremos um mundo melhor”, acredita.
Romário conta que veio de Salvador para São Paulo atrás do sonho de
crescer profissionalmente, mas que teve muitas dificuldades. Um dia veio
passear no Vale do Ribeira, gostou da região e se mudou para cá. Hoje divide a
casa onde mora e onde é seu espaço de trabalho com um amigo. Mesmo gostando
muito da cidade, Romário explica o quanto é difícil mostrar para as pessoas a
importância da cultura e do teatro e de como esse trabalho é sério. “Não é
apenas pegar um texto, decorar e reproduzir. O teatro exige dedicação,
responsabilidade, disciplina e muito trabalho, senão não teria motivo para
existir os cursos profissionalizantes de nível superior”.
Salienta ainda que o poder
público não se esforça para valorizar e expandir a cultura. “A questão da
valorização da cultura no interior tem dois culpados: o poder público municipal
que não a promove e a população que, por falta de conhecimento e comodismo não
cobra. Essa desvalorização é bem mais acentuada nas cidades do interior, mas,
também não é muito diferente no país inteiro”.
Para Romário, o poder público não tem interesse em oferecer cultura
para a população porque a cultura traz para as pessoas o conhecimento social e
o discernimento para distinguir a mentira da verdade. “Quanto mais um povo
ignorante melhor para fazer com que acreditem nas mentiras que os políticos
contam. Tem um ditado que diz: Um homem inteligente é perigoso. Então, o melhor
é manter a população burra”, contesta.
Possibilidades | Romário
acredita que com a atual gestão da Prefeitura, o município terá mais destaque
na área de cultura, uma vez, na visão dele, pouco foi feito nesses dois anos
que está na cidade. Porém, sabe que não terá atenção de imediato, já que considera
que os primeiros meses para a nova equipe serão de adaptação e de conhecimento
sobre as prioridades e assuntos mais emergenciais. “No momento, a maior
contribuição que estou tendo é justamente essa entrevista que irá contribuir
muito para a divulgação do meu trabalho e o meu projeto teatral para a cidade”,
esclarece e agradece. Mas, Romário está confiante com o atual prefeito de
Pariquera, Zé Carlos JC. “Ele se mostrou bastante interessado em apoiar a
cultura em um todo e especificamente no teatro. Inclusive falou nos comícios e
na entrevista que deu em meu programa (http://www.youtube.com/watch?v=TakJwRvBIZQ),
que irá apoiar a cultura para jovens e para terceira idade”, afirmou.
Além da possível parceria entre Romário e prefeitura, as empresas
interessadas em apoiar o projeto também podem contribuir com patrocínios. “Em
troca divulgaremos suas logomarcas nos cartazes”, enfatiza.
Romário lembra ainda que o município só tem a ganhar com a valorização
e expansão da cultura. “Será de grande valor para a formação de sua história e
na divulgação da cidade, abrindo fronteiras e podendo até fazer intercâmbio
cultural com outros municípios do Vale do Ribeira. Uma cidade sem cultura é uma
cidade sem história”.
Trajetória | Romário Machado
Barbosa nasceu em 31/12/1955, em Salvador - Bahia e faz teatro desde os 13
anos, iniciando no Centro Educacional de Periperi. Virou profissional com DRT
(atestado de capacitação profissional), em 1978. Em seu currículo constam mais
de 30 peças de teatro, quatro longas metragens, sendo que um deles foi a
participação em Tieta do Agreste, com a direção de Cacá Diegues, estrelado por
Sônia Braga. Além de cinco curtas metragens e algumas campanhas publicitárias.
Em literatura, possui poesias lançadas, crônicas e contos. É licenciado em
Educação Artística com habilitação em Artes Cênicas, pela Universidade Católica
de Salvador e Bacharel em Direção Teatral, pela Escola de Teatro da
Universidade Federal da Bahia. É também pós-graduado em educação pela Faculdade
de Educação da Bahia e possui. Atualmente está produzindo, dirigindo e atuando
em vídeos disponibilizados no Youtube,
nas páginas de Romário Machado e Bibi Mariela.
Romário Machado Barbosa em sua garagem |
Amor à arte | Mesmo com
tantos obstáculos e preconceitos que enfrentou Romário Machado Barbosa nunca
perdeu a esperança em poder levar a cultura do Brasil pra frente. Quando
criança apanhava do pai, que tentava fazer com que ele desistisse de uma
profissão “sem futuro”, como é até hoje considerada por muita gente. Sofreu
muitos preconceitos por ser deficiente físico em consequência da poliomielite,
mas afirma sempre ter tirado de letra.
Ao perguntar o motivo de continuar acreditando tanto na cultura e no
teatro mesmo depois de tantos obstáculos, Romário foi categórico. “Acredito e
morrerei acreditando. Eu me considero um agente de transformação social e
utilizo o teatro como forma de conscientizar as pessoas do seu espaço nesse
universo, se respeitando e cobrando respeito, mas para isso é preciso que as
pessoas conheçam os seus direitos e deveres, cumprindo-os para uma melhor
convivência social. Se tivéssemos respeito um pelo outro teríamos uma sociedade
melhor”.
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