sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

E o mundo ainda não se acabou

Roberto Fortes

“Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar/ Por causa disso toda a gente lá de casa começou a rezar./ Até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada./ Por causa disso nessa noite lá no morro, não se fez batucada.// Acreditei nessa conversa mole/ Pensei que o mundo ia se acabar/ E fui tratando de me despedir/ E sem demora fui tratando de aproveitar/ Beijei a boca de quem não devia/ Peguei na mão de quem não conhecia/ Dancei um samba em traje de maiô/ E o tal do mundo não se acabou.” (Samba de Assis Valente, 1938, gravado por Carmen Miranda).
 


Para a decepção de alguns apocalípticos e para a felicidade de muitos, o mundo não se acabou no último dia 21 de dezembro. Parece até brincadeira, mas a mídia impressa, falada e televisionada ficou martelando essa bobagem de “profecia maia” durante todos os dias do ano. Foi o assunto da hora durante 2012 inteiro.


Enquanto o mundo todo ficou entretido com essa conversa fiada, poucos se importaram com a violência que cresce a cada dia no Brasil e no mundo; tampouco se importaram com as misérias sociais, como exemplo vergonhoso as adolescentes indígenas que são desvirginadas por uns trocados na Amazônia; ou as crianças carentes que perdem sua inocência debaixo dos viadutos, violentadas que são pela indiferença da sociedade; ou – vá lá – sequer se importaram com o tal Mensalão (será que existiu mesmo, ou tudo não passou de uma grande conspiração, quiçá arquitetada pelos Sábios do Sião, levada a efeito por estas ardilosas criaturas apenas para denegrir a imagem imaculada do mentor do PT, o mui famigerado (no sentido de famoso, bem entendido) José Dirceu, que nega até o último fio de cabelo ter participado dessa farra com o dinheiro público?). Bem, pelo menos até agora ninguém mexeu com o Lulinha Paz e Amor, que já está em campanha declarada para o Planalto em 2014. Fatalmente, será eleito, já que não existe um candidato da oposição que possa lhe fazer páreo.
Comecei a falar do “chabu” que foi o tão esperado “fim do mundo” e acabei falando das eleições presidenciais. É que quando a gente pega na pena e começa a gastar tinta sobre uma folha em branco, a imaginação toma rumos que a própria razão desconhece, e quando menos se espera estamos falando da preservação dos ursos pandas chineses ou de uma borboleta que bateu suas asas nas Ilhas Fiji e provocou a crise do euro, coisas desse tipo.
Mas não censurem este pobre cronista pouco inspirado, que desde 1994 vem torturando o leitor com estas sempre mal traçadas e tortas linhas, escritas com letras mais tortas ainda. Dizem que nada é tão ruim que ao menos alguma coisinha não se aproveite.
Voltemos ao nosso tema de hoje: o fim de mundo que (maravilha!) não houve. Quão bom seria se não perdêssemos o nosso precioso tempo com futilidades e empregássemos nossa atenção naquilo que fosse realmente útil para o engrandecimento da humanidade. Pelo menos, assim agindo, quando de fato ocorrer o fim do mundo, partiríamos desta para melhor com o senso do dever cumprido.
Como esta é a minha última crônica deste ano, quero aproveitar a ocasião para desejar ao fiel leitor, que toda sexta-feira perde o seu precioso tempo lendo estas tortas e mal traçadas linhas, os melhores votos de um Ano Novo com muita saúde e muitas realizações.


Feliz 2013!

Nenhum comentário:

Postar um comentário